No dia 17 de maio celebra-se o Dia Mundial da Internet. Esta data foi instituída em 2005 durante a Cimeira Mundial sobre a Sociedade da Informação, promovida na Tunísia pela Organização das Nações Unidas (ONU). Um dos principais objetivos definidos nesta reunião internacional foi o da inclusão digital. Passados 15 anos, desde esta iniciativa, ainda temos um importante caminho a percorrer, uma vez que a Internet só está acessível a 59% da população mundial. Esta limitação representa, muitas vezes, um obstáculo de acesso a oportunidades de desenvolvimento social e económico, em diferentes países e regiões do globo.
Os mais recentes desenvolvimentos ao nível das telecomunicações e a proliferação das redes de telemóveis têm permitido uma melhoria significativa nas condições de acesso à Internet. Segundo algumas previsões acredita-se que durante a próxima década se possam atingir valores próximos dos 100%, alinhados com o objetivo das Nações Unidas que pretende que todos os adultos do mundo estejam conectados até 2030. Este objetivo está explanado no relatório da Era das Interdependências Digitais que reforça a importância da Internet para garantir a todos o acesso a esta revolução da Economia Digital. Um pouco por todo o mundo, assistem-se a iniciativas de promoção da inclusão, como é o caso do projeto do professor do MIT Media Lab Negroponte que aposta na inclusão digital de crianças em países em desenvolvimento.
Em Portugal existem cerca de 8,5 milhões de pessoas com acesso à Internet e, em média, passam mais de 6 horas por dia conectadas, tanto por razões profissionais, como por razões pessoais.
Na atual conjuntura, acredita-se que fruto do teletrabalho, do isolamento social e das situações de quarentena tenha ocorrido um aumento no “tempo de utilização de ecrãs”.
Uma grande parte dos internautas nacionais utilizam os seus dispositivos móveis para aceder à Internet. As atividades mais realizadas são a visualização de vídeos, os jogos, a audição de músicas e a navegação em redes sociais. Cerca de 70% da população tem pelo menos uma conta numa rede social que visita com regularidade. Mais de metade dos utilizadores portugueses da internet já realizaram compras online e cerca de 88% realizaram pesquisas online sobre um produto ou serviço antes de o comprarem física ou virtualmente. O valor das compras online, em Portugal, ultrapassou em 2019 os seis mil milhões de euros e as previsões apontam para um crescimento muito significativo em 2020, estimulado também pela presente situação pandémica.
Estes números demostram que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) alavancadas pela Internet vieram alterar o dia-a-dia dos cidadãos e das próprias organizações. Este sistema global de redes interligadas revolucionou a forma como as pessoas comunicam, se relacionam, aprendem, se divertem e fazem negócios. Na atual situação é uma ferramenta fundamental para ultrapassar os obstáculos que estamos a enfrentar. António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas, refere que “as tecnologias de informação podem ser um farol de esperança, permitindo que biliões de pessoas em todo o mundo se conectem. Durante a pandemia do COVID-19, essas conexões ... são mais importantes do que nunca.”
Para compreender o valor da Internet nos nossos dias basta imaginar a situação atual sem acesso à Internet. Como consultaríamos as informações atualizadas? Como continuaríamos a contactar com as outras pessoas? Como é que muitas empresas continuariam a trabalhar? Como é que os alunos continuariam a aceder às aulas e aos conteúdos? Como é que as organizações comunicariam com os seus clientes, colaboradores e fornecedores? Como é que as empresas se preparariam para a fase pós-COVID?
Poder-se-iam continuar a colocar inúmeras questões, mas imaginar esta realidade sem a Internet seria um exercício extenuante.
Durante este período de confinamento o comportamento de uso da Internet pelas pessoas sofreu alterações, tendo-se constatado um aumento muito significativo do consumo de vídeos em streaming e do tráfego que suporta vídeo chamadas, reuniões e webinars. Algumas operadoras móveis apontam mesmo que o uso de dados pelos seus clientes aumentou mais de 50%, em média, nos países europeus. No domínio lúdico, os europeus passaram a pesquisar muitos conteúdos de entretenimento, emprego e fitness e diminuíram as suas pesquisas relacionadas com desporto, viagens e casamentos. Mas, para muitos a internet passou, acima de tudo, a ser o canal de distribuição mais usado, que garante a muitas famílias a entrega em segurança em suas casas de todo o tipo de bens e serviços necessários. Assim, podemos concluir, nesta fase, que a Internet veio desempenhar um papel fulcral e assumiu um protagonismo que atesta a sua verdadeira importância nos dias de hoje.
Também se acredita que este meio será o principal impulsionador da recuperação económica. As pessoas e as organizações vão alterar e ajustar os seus comportamentos a uma realidade pós-COVID, que colocará a Internet na linha da frente dos processos de comunicação e interação entre os diversos agentes económicos.
A transformação digital da economia, que até agora já era uma inevitabilidade para as empresas, vai ganhar maior protagonismo na próxima década. A realidade virtual e aumentada, a robotização e digitalização dos serviços e a inteligência artificial são áreas que já estão no centro desta nova revolução. Vai ser necessária muita resiliência para abraçar este futuro digital com determinação.
Contudo, o horizonte revela que a Internet ainda não projetou todo o seu potencial. O aumento da velocidade, o surgimento das redes 5G e a melhoria dos dispositivos de captação e transmissão de dados vai intensificar a presença da Internet nas mais diversas áreas criando valor e oportunidades de negócio à distância de um clique.
A vida das empresas e das pessoas vai continuar a ser fortemente impactada pela Internet, neste mundo onde cada vez mais a única constante é a mudança.
Artigo de Flávio Tiago
Flávio Tiago é professor auxiliar da Universidade dos Açores. É doutorado em ciências económicas e empresariais, com especialização no domínio da gestão do conhecimento e do e-business, com agregação no ISEG - Lisbon School of Economics and Management. É atualmente Presidente da Direção Regional dos Açores da Ordem dos Economistas. É investigador no centro ADVANCE do ISEG-UTL e no Centro de Estudos de Economia Aplicada do Atlântico - CEEAplA - UAc. Para além de uma atividade profissional em empresas regionais, nacionais e internacionais, tem desenvolvido e participado em diversos estudos e projetos de investigação, publicados em revistas internacionais de referência nas áreas da inovação, do turismo, do marketing e da economia digital. Participa, ainda, como mentor, jurado e orador em dezenas de conferências, workshops, seminários, congressos e eventos promovidos por organizações públicas e privadas em todo o mundo.